Sobre o amor

Henrique S.
3 min readDec 12, 2019

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Estava ouvindo o podcast semanal do Jordan Peterson (que é basicamente o conjunto de palestras que ele ministrou nos últimos anos) e uma parte de sua fala me chamou bastante a atenção. O episódio é sobre a questão da Verdade.

S2 E32: The Topic of Truth [Edimburgo (Escócia), 28/10/2018]

Em suas palestras, Peterson sempre escolhe um ou alguns dos capítulos de seu livro 12 regras para a vida e tenta destrinchá-los, aprofundando-se o máximo possível em cada uma das questões e fazendo reflexões filosóficas, psicológicas e sociológicas de forma espontânea e cativante. O pensador canadense não ensaia, não decora e nunca repete as palestras. Cada uma é uma, por isso são tão especiais, intimistas e profundas.

Em relação ao episódio da vez, que se foca na Regra 8 (Diga a verdade. Ou pelo menos, não minta), a reflexão que me instigou foi sobre o amor [o trecho está mais ou menos entre 01:35:46 e 01:37:00].

Um jovem autista da plateia perguntou a Peterson sobre o conceito de “amor”, e o quanto este seria importante para o “sentido da vida” (meaning).

E o nosso canadense favorito (depois de Terrance, Phillip, Wolverine, Keanu Reeves e Avril Lavigne, é claro), em sua resposta, diz o seguinte:

Goethe, autor de Fausto, tem um personagem nessa grande obra, Mefistófeles, que é uma espécie de demônio. E Mefistófeles tem um credo, que ele repete duas vezes na obra, na primeira e na segunda parte, que foi escrita muitos anos depois. E seu credo é:

as coisas são tão comprometidas por suas limitações e pelo sofrimento que isso produz, que seria melhor se nada existisse.

E eu diria que isso é o oposto do amor. Isso não faz do amor uma coisa trivial, porque significa que você precisa aceitar a catástrofe. E acho que é isso que você faz quando ama alguém profundamente. Você decide, no nível mais profundo do seu ser, que, apesar de toda a fragilidade, inadequação e erro dessa pessoa em particular, é incrivelmente maravilhoso que ela exista. (Tradução e grifos meus.)

Homem também cruza a perna

O trecho original, para quem preferir:

Goethe, who wrote Faust, has a character in his great play, Mephistopheles, who is a variant of Satan. And Mephistopheles has a credo, which he repeats twice in the play, in the first part and the second part, written many years later. And his credo is:

things are so compromised by their limitations and the suffering that that produces, that it would be better if nothing existed at all.

And I would say that that is the opposite of love. That doesn’t make love a trivial thing, because it means that you have to embrace the catastrophe. But I think that is what you do when you love someone deeply. You decide at the deepest level of your being, that for all the fragility, inadequacy and error of that particular person, it’s spectacularly wonderful that they existed. (Transcrição e grifos meus.)

E aí, o que acham? Bonito, não? 😊

Post scriptum: Essa história de “ser incrivelmente maravilhoso que alguém exista” fez-me lembrar daquele belo diálogo de Watchmen, que se dá entre o Dr. Manhatann e a Laurie. Ei-lo:

Cada vida é um pequeno milagre.

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Henrique S.
Henrique S.

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